❤ Beijos, conversas, café e Belle Époque | Crônica
A
tarde por algum motivo estava mais que esplêndida naquele verão. Na verdade,
Sofia acordou com a sensação de que aquele dia prometia algo mágico! Verões
costumavam fazer isso com ela. Sem dúvidas cor, calor, sol, disposição e o
aumento da movimentação nas ruas que eram tomadas por inúmeras e distintas risadas
e sorrisos era o que mais amava naquela estação. Isso e o fato de poder usar
roupas leves que a faziam se sentir flutuar.
Entrou
na adorável cafeteria que já havia se tornado sua preferida da cidade e se
sentou na mesa de sempre: duas cadeiras de madeira com encostos ornamentais vazados,
um arranjo floral pequeno, mas colorido no centro e próxima as grandes janelas
de vidro que iam quase do chão ao teto e davam uma visão privilegiada da rua.
Aquele lugar realmente a fazia viajar pra uma época que nunca viveu, mas amava.
Suspirou contente, os cafés da Belle Époque deveriam ser tão agradáveis quanto.
Mais elegantes claro, porém, para ela o café que frequentava fielmente ao menos
quatro vezes na semana sabia misturar elegância e simplicidade de forma que
não perderia em nada.
Pegou um livro de romance de época para passar o tempo até sua companhia de todas as tardes chegar. Sorriu ao pensar que ele sempre escolhia as mesas mais privadas perto das grandes janelas mais a dentro da cafeteria. Ele apreciava o silencio. Mas como ela sempre chegava primeiro, bem... ganhava a batalha das mesas.
Geralmente
usava as tardes no café para revisar documentos e fazer análises do quebra
cabeça que as vezes seu trabalho poderia ser, e devia confessar que amava o que
fazia. Porém, aqueles dias de descanso estavam lhe fazendo um bem danado. E o
melhor era poder ler seus amados romances de época sem se preocupar com outras
tarefas.
“O
duque tinha um olhar intenso e misterioso, ao qual Emma gostaria muito de
decifrar...”
Levantou
ligeiramente os olhos castanhos da leitura ao ouvir o sino tocar, no entanto, não
retornou a leitura. Observou seu amigo cumprimentar um funcionário que
provavelmente o oferecia uma mesa. O viu negar gentilmente com um sorriso, e
apesar de estar longe demais para ver, sabia que as covinhas estavam ali
também.
Ryan
não precisava que o guiassem entre as mesas, sabia exatamente onde eu estaria
e não se dava mais o trabalho de perguntar porque sempre as janelas em frente à
rua. Um ano e alguns meses de amizade já o tinha feito se acostumar afinal. Acompanhou
com os olhos ele caminhar sem pressa até a mesa, despreocupado em como a brisa
leve que entrava pelas janelas balançava levemente seus curtos e sempre bem
cortados cabelos castanhos. Eram lindos e macios (para a constante indignação dela
que se perguntava divertidamente para que um homem precisava de cabelos tão
macios e brilhantes).
Seus intensos
olhos castanhos se desviaram da mesa para logo em seguida se abaixarem para algo
que caiu da mesa que se encontrava a alguns metros de onde ela estava. Ele se abaixou, pegou seja lá o que fosse e entregou
a moça que o olhava com olhos de nítido interesse. Bufei resignada. quase
sempre tinham alguns suspiros e olhares por onde ele passava. Não as culpava, ele
tinha um encanto natural e a gentileza de um gentleman. Ser sua amiga não me
fazia cega aos seus encantos no final das contas.
Após
uma despedida breve continuou seu caminho até a mesa acompanhado do olhar da
mulher que ajudou a pouco. Como disse, não a culpo. São mais de um metro e setenta,
acompanhados de boa forma, postura firme e gentileza. Quase sempre estava
vestido formalmente devido ao trabalho, o corte do blazer azul marinho o deixava
com uma elegância casual. Ele poderia ser facilmente o duque do romance em
minhas mãos. Abafei a risada ao imaginar o pronome de tratamento “sir” antes de
seu nome. Estava lendo muitos livros de época.
Coloquei o livro no canto da mesa me levantando e o cumprimentando com um abraço apertado. Seu perfume amadeirado invadiu minhas narinas trazendo um sentimento bom de conforto. Ele usava sempre esse mesmo perfume e eu amava, poderia reconhecer a metros de distância. Ele olhou para livro no canto da mesa e sorriu ao constatar minha leitura.
- Já é
o terceiro romance de época em duas semanas. As férias estão sendo boas pelo
visto.
Sorri
zombeteira ao lhe dizer que meus sonhos estavam sendo realizados. Após fazermos
os pedidos e contarmos as novidades dos últimos dias, estávamos em meio a
risadas por alguma observação sobre como mudávamos de assunto aleatoriamente. Eu
amava nossas conversas! Íamos de assuntos políticos, curiosidades irrelevantes,
reflexões profundas e acontecimentos pessoais ao último documentário do
Discovery em minutos. Eu sentia que, ao seu lado, podia ser eu mesma em todas as minhas
formas sem nenhum receio e ficava feliz em ver que ele se sentia assim
também.
Nossa
amizade começou meio tímida aqui nesse mesmo café e aos poucos já estávamos dividindo
muito mais que uma mesa no “La Vennue”. Minhas tardes foram coloridas mesmo em
dias de inverno chuvosos que eu detestava (e ele amava diga-se de passagem)
apenas pelo fato de dividir a mesa com ele enquanto conversávamos e trabalhávamos
em uma mistura engraçada.
Após uma longa tarde de conversa e trabalho (trabalho da parte dele como fiz questão de provocar e brincar a tarde toda), ele
levantou o braço pedindo a conta ao garçom. Braços fortes, com um aperto firme.
Conseguia perceber isso pelo seu abraço, era inevitável pensar em como deveriam
ser ainda mais firmes ao segurar alguém que seja mais que uma amiga. Balancei rapidamente
a cabeça para afastar esses pensamentos indiscretos e frequentes que venho
tendo nos últimos meses. Ora essa, somos amigos. O que estava acontecendo comigo
ultimamente?
Saímos
do café e seguimos em direção a uma praça grande e florida. Era nosso ponto de
despedida, morávamos em lados opostos da cidade. No entanto, tínhamos ainda
mais assunto que o normal naquele dia. Talvez pelo fato de termos ficado duas
semanas sem nos vermos por causa de sua viagem de férias. Era bom estar com ele
outra vez, nem havia me dado conta que a saudade era maior do que eu pensava.
Ao
perceber que anoitecia me despedi com um aperto no coração. Queria ficar mais tempo
em sua companhia (queria mais do que era normal uma amiga querer, constatei sentindo
o coração retumbar em meu peito). Após um longo abraço de despedida, lhe dei as
costas ainda agitada com meus sentimentos e pensamentos inusitados. Porém,
escutei sua voz grave me chamar quase como num sussurro. Oh, céus! Esse homem
vai me fazer ter um enfarto.
Virei-me
lentamente mirando seus olhos profundos e senti-me hipnotizada. Sentia-me
dentro de um dos meus amados romances, ironicamente pensei que entendia Emma (heroína
do livro que lia mais cedo) muito melhor agora. Ele definitivamente poderia ser
um duque. Pisquei algumas vezes e quando achei ter colocado meus pensamentos em
ordem, levantei meu olhar novamente. Apenas para vê-lo se aproximar lentamente,
como um leão indo de encontro a sua presa.
Esqueça
o coração retumbante, eu não sinto minhas pernas! Ele não vai fazer o que penso
que vai, certo? Constato que sim quando sinto sua mão forte em minha cintura e
seu rosto a centímetros do meu. Constato também que não tinha noção de como queria
isso até o momento que seus lábios tocaram os meus.
Esqueço
como se respira por alguns segundos, meus sentidos estão entorpecidos e
embaralhados enquanto sinto seu braço me trazer para mais perto e uma de suas
mãos pousar em meu rosto. Seus lábios são gentis sobre os meus e todo meu corpo
reage eletricamente ao seu. Se me perguntassem meu nome nesse exato momento eu
não saberia responder.
Naquele
momento tudo se encaixava e... céus! Parecia certo, era certo. Eu passei minha
vida inteira esperando por isso sem nem perceber... esperando por ele. Esperando
por nós.
Nos separamos lentamente com os olhos cravados como adagas um no outro. Procurando entender com o olhar as emoções um do outro. Ah, querido... você consegue? Consegue ver em meus olhos nesse momento o quanto te quero?!
Após mais alguns
minutos aproveitando o calor um do outro, nos despedimos sabendo claramente que
queríamos ficar mais tempo ali, na nossa bolha. Estávamos onde mesmo? Claro, na
praça... a caminho de casa.
Deitada
em minha cama constatei que essa foi uma belíssima tarde. Houve beijos,
conversas, café... não necessariamente nessa ordem.
Ok,
essa já era a décima vez que repassava o que aconteceu em minha cabeça. E em
todas as vezes era impossível conter os suspiros, sorrisos e o tom avermelhado
que podia sentir em meu rosto. Já eram quase meia noite, eu precisava dormir,
mas a empolgação não me deixava pregar os olhos. Fechando-os e sorrindo
bobamente mais uma vez, eu pensei que nada, nada mesmo, parecia mais certo que
aquele beijo. A não ser que eu precisava que existissem muitos outros...
infinitos outros.
4 comments
Ryan, assim como Dom Quixote que fantasiava inúmeras vivências ao lado de sua amada Dulcinéia, desfrutava das mesmas fantasias mirabolantes em seus dias no café, seja nos verões ou invernos (os invernos eram melhores... provavelmente...suponho rsrs).
ResponderExcluirOiê! Creio então que Ryan e Sofia ficaram imensamente felizes pelas fantasias terem se tornado reais ♥️ Sofia com certeza votaria nos verões, mas com Ryan ela podia amar até mesmo os invernos rsrsrs...
ExcluirQue história incrível! Creio que Ryan sentiu por muito tempo o mesmo que Sofia. Já passamos todos por isso hahahahahaha. Que seus textos continuem doces como as gostosuras do La Vennue e delicados como o toque de um amor novo (ou não tão novo assim) <3
ResponderExcluirOiê João! Obrigada pelo comentário 🥰 são sempre doces e muito encorajadores, como uma tarde de verão com doces no La Vennue <3
Excluir